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Texto aceito pelo GEGE e publicado no livro de textos, Círculo Rodas de Conversa Bakhtiniana

Interagir com o outro, criar, contemplar com palavras, gestos ou apenas um olhar                                                                                       
                                                                                        Márcia Roza Lorenzzon
                                                                                                     
Para obter uma interação entre interlocutores, é imprescindível que haja um discurso voltado aos interesses dos envolvidos, da clareza do diálogo e do sentido da interlocução.
Podemos falar de nossa experiência como professor, de uma escola contemporânea, onde não se pode continuar conteudista e somente repassar conhecimentos, mas uma  escola  interacionista, valorizando uma linguagem concreta, utilizando um discurso contextualizado e voltado para o social dos alunos.
Bakhtin já defendia a concepção de discurso, propunha uma educação verdadeiramente dialógica a partir de uma ressignificação do discurso pedagógico que circula na escola de nossos dias.
O belo do discurso pedagógico que acontece nas salas de aula, se dá quando os professores dão importância  às palavras, gestos e o olhar dos alunos, há uma  ruptura de metodologias, um repensar pedagógico, pois bem sabemos que se aprende mais quando interagimos com o meio em que vivemos, assim como interage na arte, de criador e contemplador.
Podemos então tentar interpretar a filosofia do ato ético, (ou ato responsável) de Bakhtin, como uma proposta de agir humano no mundo concreto, mundo social e histórico, sujeito à mudanças, não somente no aspecto material, mas também por meio de linguagem.
É possível colocar em prática estas teorias, interagindo com as vivências sociais, com o mundo que vemos todos os dias e que talvez não  são compartilhadas nas nossas práticas, para assim envolver nossos atos com responsabilidade, é o que se espera de nós e dos outros.

Para Bakhtin:
 (...) a enunciação é produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído por um representante ideal, mas que não pode ultrapassar as fronteiras de uma classe e de uma época bem definidas. (...) A palavra se orienta em função do interlocutor. Na realidade, a palavra comporta duas faces: procede de alguém e se dirige para alguém. Ela é o produto da interação do locutor e do interlocutor; ela serve de expressão a um em relação ao outro, em relação à coletividade. (...) A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros (...) se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra se apóia sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN/ VOLOCHINOV, 1992, p.113). 
Eis que surgem professores e alunos de uma época de inovações e de temas voltados ao diálogo. Então repensemos nossos discursos e a sequência didática, para que  as aulas não sejam organizadas em discursos mecânicos e  estanques, mas com discursos significativos, envolvidos pelo locutor e o interlocutor.
Em vista dessa particularidade específica da  vivência concreta do outro, coloca-se o problema estético de proporcionar a razão de ser a uma finitude dada, circunscrita, sem sair dos limites de um mundo exterior espácio-sensorial, igualmente dado; é apenas no tocante ao outro que a apreensão cognitiva e o sentido de uma razão de ser ética são vividos em sua insuficiência e em sua indiferença à singularidade concreta da imagem.

A habituação estética é objetiva, não é pura nem isenta, não garante o conhecimento do ser único na sua eventualidade, mas apenas a visão estética de um sujeito indeterminado em sua passividade. Para Bakhtin, compreender o objeto é compreender o meu dever em relação a ele (meu postulado moral).

No trabalho realizado com o material das Olimpíadas de Língua Portuguesa deste ano, percebeu-se que as oficinas no almanaque, “A ponta do lápis” trazia importantes exemplos de textos que se completam pela linguagem, pela leitura e pelos discursos.

O escritor não escreve para ele, mas para que haja uma interlocução, uma relação estética de sua obra. Através desses atos, atualizo o privilégio de minha posição fora do outro, e em virtude disso a consistência que ele adquire em seus valores se torna uma realidade tangível.

Destacamos a relevância deste trabalho, não somente como uma competição, mas com o intuito de levar o aluno a ler, escrever e interpretar tais gêneros, contextualizando-os.
A escola pode ser um ambiente de interação através da linguagem oral e escrita, podendo o professor partir do dinamizar o ensino-aprendizagem, oportunizar aos alunos situações de comunicação que tenham sentido para eles.
Para Bakhtin (1984), os gêneros podem ser considerados como instrumentos que fundem a possibilidade de comunicação. A escola deve ser um lugar autêntico de comunicação, para também tornar-se um lugar com múltiplas situações de escrita e leitura necessárias à vida escolar e social dos alunos.
Percebemos ao longo dos anos de educação, que se aprende ler, lendo e que se aprende escrever, escrevendo. Faz-se necessário a realização de estudos para conhecer a educação que se faz na escola, como se planejam, pois não podemos negar a escola como um lugar de comunicação e de discurso.
Para Pey, há um propósito de conduzir os professores a uma reflexão sobre a realização de uma educação mais dialógica, saber falar e também ouvir. Então para romper com o tradicionalismo, há de se refletir sobre a produção discursiva pedagógica e num simples olhar interagir com seu aluno.
Trabalhar com gêneros textuais não implica a dissociação da gramática, mas a enunciação contextualizada da mesma, uma reintrodução da noção de prática de linguagem. Como exemplo, os gêneros estudados no ensino médio, podemos introduzi-los desde a educação infantil, proporcionando o exercício da fala, gesto, canto, no conto de histórias, na reinvenção de histórias infantis.
Também quando contemplamos uma obra de arte, há o criador da obra e seus contempladores, como fator essencial desta interação, que é compreendida por esta forma especial de interrelação entre ambos,  quem cria e quem contempla.
Será que fazemos esta relação, sabemos apreciar a arte, levamos aos nossos alunos o aprender contemplar?
A arte, como obras clássicas, eruditas e sacras, todas perpassam pela nossa vida, seja como estudante, professor ou aluno. Então se faz necessário proporcionar esta interação, entre a obra de arte e da linguagem discursiva,  entre, locutor/ interlocutor, criador/contemplador, estético/ético.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 2003;
2. SOBRAL, Adair. Ético e Estético;
3. BAKHTIN, M.( V. N. Volochínov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. São
Paulo: Hucitec, a999.
4. PEY, M. O. A escola e o discurso pedagógico. São Paulo: Cortez, 1988.

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